terça-feira, novembro 13, 2007

Vida inteligente nas madrugadas?

Desde que "o mundo é mundo", sempre houve o dia e a noite. Sempre. E a principal diferença entre os dois sempre foi a luz do Sol, presente ou ausente. A parte do dia mergulhada nas trevas sempre foi alvo da imaginação, especificamente a das crianças.
A criança que ainda não tem uma noção de mundo, tem sua vida controlada pelos pais, e não tem, e nem pode ter liberdade individual. E é justamente essa falta de liberdade que desenvolve sua imaginação. Normalmente, as crianças têm uma rotina definida, a maioria chega da aula à tarde, lancha, faz seus deveres (ou não), assiste televisão e vai dormir. Os pais nunca permitirão que elas durmam tarde, ou passem a noite em claro, e daí os pequenos se indagam: o que será que acontece enquanto eu durmo?
Por terem um horário certo para dormir, e nunca verem o que acontece nas madrugadas, as crianças criam sua própria versão para a vida noturna. Acham que, a dormir, o mundo inteiro também dorme, e não há vida inteligente na escuridão. Por um lado, pensar que o tempo não passa só porque você não o está vendo passar, pode ser uma visão extremamente egocêntrica, mas que no fundo é apenas fruto da inocência infantil.
Ao amadurecerem, as crianças perdem a imaginação fértil, e se tornam adultos com conhecimento sobre o mundo sificiente para deixar a imaginação de lado. Hoje à noite, às nove horas, uma criança estará indo dormir, e só acordará amanhã; para ela a noite não passou, ele simplesmente acordou e pum! Lá estava o dia. Já às onze horas, um adulto sairá para uma festa com os amigos, e às cinco da manhã ele estará na rua voltando para casa. Ele "viu" a noite passar, e está vendo o novo dia chegar para ele não há mistério algum nisso.
Outro dia, ao passar pelo centro da cidade de carro, à uma hora da manhã, e ver pessoas nos pontos de ônibus, táxis, garis recolhendo o lixo, e carros transitando, cheguei a essa conclusão: há vida inteligente nas madrugadas. Mas isso é um segredo, e que deve ficar só entre nós, pessoas que compreendem o mundo como ele é. Revelá-lo às crianças seria como dizer que Papai Noel não existe, a magia seria quebrada, e elas se rebeleriam, querendo dormir tarde e passar noites em claro. Aliás, na sociedade atual, com a globalização, isso ocorre com frequência. As crianças estão, aos poucos, deixando de pensar e agir como tais, e estão amaduecendo super precocemente.
A propósito, são duas da manhã, e minha irmã de 9 anos está me esperando para assistir a um filme com ela. Enquanto eu, com os meus dezesseis anos, exercito a minha imaginação aqui, ela está lá se rebelando, pois já descobriu há muito tempo que existe vida inteligente nas madrugadas. É a Revolução Infantil!