terça-feira, maio 15, 2007

Todo dia ela faz tudo sempre igual.

5:55 da manhã. O celular apita. Lentamente, ela vai despertando. E o celular continua a apitar. Ela vai abrindo os olhos com alguma dificuldade, afinal, não é lá muito agradável ter seu sono interrompido por apitos histéricos. Ela vai tateando a procura de seus óculos, quase como que um instinto. Ao acha-los, pega seu amigo histérico, e o faz cala a boca. É hora de encarar a realidade: mais um dia está começando. Ela respira fundo, se espreguiça, boceja. Dá uma olhada no relógio. Meia hora. Fica refletindo se talvez ainda teria alguns minutinhos para dar mais uma cochilada. Acha mais prudente se levantar logo, afinal, depois de 6 anos estudando de manhã, ela sabe o risco que corre ao se dar ao luxo dos “mais 5 minutinhos”.
Senta na cama, procura suas havaianas pretas, e se levanta. Ainda cambaleando, acende a luz do quarto (a preguiça de abrir a persiana para aproveitar a luz do Sol sempre fala mais alto). Lentamente, ela caminha até o banheiro, e acaba de acordar. Lava o rosto, tira da pele a pomada contra espinhas, tira o aparelho móvel dos dentes, tira os óculos, e põe as lentes de contato.
Volta para o quarto, olha as horas novamente. 25 minutos. Abre o guarda-roupa, pega a calça jeans de todos os dias, escolhe um cinto (ou não), escolhe uma blusa (não antes de da uma espiada na janela para ver como está o tempo), olha para os tênis, analisa qual combina com a blusa... e quase sempre acaba escolhendo um All Star velho qualquer. Veste-se, pega a mochila (previamente preparada na noite anterior), põe o brinco (só em uma orelha, na outra há um alargador de 6mm), a pulseira mais grossa, a pulseira mais fina, e o anel (quase sempre nessa ordem). Apaga as luzes, e desce as escadas. Depois, claro, de dar uma olhada no sono de sua cachorra, e murmurar um “gracinha!”.
Põe a mochila perto da porta, e caminha até a cozinha. Olha as horas mais uma vez. 15 minutos. Analisa as opções de café da manhã, e na maioria das vezes acaba não comendo nada. No máximo toma uma xícara de café.
Vai para o banheiro novamente (dessa vez, não o da suíte, mas o do andar de baixo). Arruma o cabelo, escova os dentes, recoloca o aparelho móvel, passa o lápis de olho, passa o perfume. Dá uma última olhada no espelho, para se certificar de que não esqueceu nada. Olha as horas. 5 minutos. Volta para a cozinha, pega o dinheiro do lanche e os vale-transportes, carinhosamente deixados ali por sua mãe na noite anterior, e coloca no bolso direito. Pega o celular, põe no modo silencioso, e o coloca na mochila. Pega suas chaves coloridas penduradas no chaveiro, põe a mochila nas costas, abre a porta. Sai, tranca a porta, desce as escadas do prédio com a mochila aberta, e as chaves na mão.
Chega à rua, e sente a bisa fresca do ar da manhã (exceto talvez nos dias de calor extremo). Guarda suas chaves, e fecha a mochila. Atravessa a rua, e chega ao ponto de ônibus. Dá uma olhada na sua varanda, para ter a certeza de que sua cachorra ainda está dormindo. Olha à sua volta. As mesmas pessoas de todos os dias. Ela não sabe o nome de nenhuma delas, mas se sente familiarizada com seus rostos. “Se elas estão aqui, então eu estou na hora certa”.
Para no ponto o ônibus da Cometa vindo de São Paulo (Juiz de Fora, 23:45h). Não falta muito agora. O ônibus de viagem cheio de caras sonolentas se vai, e um minuto depois lá está ele, o mesmo ônibus verde de todos os dias. Todos os conhecidos-desconhecidos do ponto se preparam para embarcar. Ela tira a mochila das costas, e pega o vale-transporte no bolso direito. O ônibus para. Um a um, todos vão subindo. E então, ele parte. Parte levando os jovens estudantes rumo a mais um dia de aula. Parte levando os trabalhadores para mais um dia de trabalho. Parte levando todos os seus passageiros, rumo a mais um dia de suas vidas.